O medo de morrer

Edeli Macedo
2 min readMar 26, 2023

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Esses dias me percebi com medo da morte, um medo sufocante e aterrorizador. Senti quase como se devesse me proteger da vida, para assim enganar a morte — algo inconsciente de que se eu não estivesse vivendo na totalidade, a morte não me encontraria.
Após uma aula junguiana das etapas da vida, a morte me encontrou novamente. Achei que poderia ficar camuflada ou esquecer e postergar sua existência, mas ela estava lá e apesar da minha ideia equivocada e desejo de evitá-la a todo custo, ela trouxe algumas reflexões.

The Young Girl and Death — Marianne Stokes
The Young Girl and Death — Marianne Stokes

Clarissa Pinkola Estés aponta para o ciclo vida-morte-vida como presente em nós e que depois da morte, uma nova vida sempre é gerada. Nessa perspectiva podemos ver que nosso cotidiano é feito de pequenas mortes como a troca de um emprego, a finalização dos estudos, o término de uma relação, até pequenas coisas, como terminar uma refeição, finalizar um filme, etc. Assim, a morte está em nós cotidianamente, mas também a vida. No tarot, a carta da morte nem sempre significa a morte física, mas uma transformação.

Para C.S. Lewis a morte é parte integrante da experiência de amar “E, então, um ou outro morre. E pensamos nisso como um amor que foi podado; como uma dança interrompida quando começava a evoluir, ou como uma flor com seu botão bruscamente arrancado — algo mutilado e, portanto, deformado (…) a perda causada pela morte é uma parte universal e integrante da experiência de amar. Ela decorre do casamento de modo tão natural quanto o casamento é conseqüência do namoro, ou como o outono vem depois do verão. Não se trata de um truncamento do processo, mas de uma de suas fases; não a interrupção da dança, mas a execução do número seguinte.” Nessa perspectiva lemos a morte como uma etapa do processo.

É preciso aceitar a morte para abraçar a vida.

Para Jung, “o medo de morrer é o medo de viver”, o desespero que sentimos em relação à ideia da morte e seus símbolos, diz respeito diretamente a nossa atitude na vida. Aceitar a morte, as limitações da vida no decorrer do envelhecimento, é o caminho para uma vida plena, entendendo a morte como um ciclo, não como ruptura, mutilação.
“A recusa em aceitar a plenitude da vida equivale a não aceitar o seu fim. Tanto uma coisa como a outra significam não querer viver. E não querer viver é sinônimo de não querer morrer. A ascensão e o declínio formam uma só curva.”

(JUNG, p. 316–317, Espiritualidade e Transcendência)

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